Iniesta arremata para fazer o gol do título mundial da Espanha, em 2010, na final contra a Holanda |
João Sem Medo, ainda indignado com os 7 a 1 da Alemanha sobre
o Brasil em 2014, prossegue o seu raciocínio sobre os problemas do futebol
brasileiro.
João Sem Medo: - Nos anos 90, quando eu já não podia mais estar fisicamente
para denunciar os crimes que estavam cometendo com o nosso futebol, passamos a
imitar o antigo estilo europeu, mais pragmático, frio, sem jogo de cintura. E os
alemães e os espanhóis passaram na década seguinte a nos imitar desde as
divisões de base. Pegaram nossas melhores características e começaram a ensinar
nas escolinhas de futebol de lá aos seus garotos. Com o tempo, com a
organização que eles têm e nós não temos, mudaram sua forma de jogar.
Principalmente a Alemanha, que sempre teve grandes jogadores, mas era mais dura
de cintura.
Garçom: - Prefiro o jogo da Alemanha do que o
da Espanha.
João Sem Medo: - Essa Espanha que ganhou em 2010
parecia o Bolero de Ravel, sempre a mesma coisa. Mas tinha um cracaço de bola,
o Iniesta.
Veja também:
Sobrenatural de
Almeida: - Em 2010
estive na África do Sul.
Ceguinho Torcedor: - Aquele gol da Holanda sobre nós,
com Júlio César e Felipe Melo, que jogaram juntos no Flamengo, batendo cabeça,
só pode ter sido obra do Além.
Sobrenatural de
Almeida: - Mas me
redimi, e os holandeses tiveram de amargar o terceiro vice mundial.
Ceguinho Torcedor: - Aquele futebol da Espanha era igual
ao tico-tico no fubá do América dos anos 50.
João Sem Medo: - Concordo com você, Ceguinho. Curioso
que o Zagallo disse o mesmo da Holanda, em 74. E não tinha nada disso. Era um
time de jogadores muito inteligentes e Cruyff foi um dos maiores que vi jogar.
Sobrenatural de
Almeida: - Em 74,
não gostei daquele futebol em que ninguém tinha posição fixa. Então, achei
melhor a festa ficar em casa, com os alemães.
João Sem Medo: - Aquela seleção espanhola de 2010 era mesmo o tico-tico no
fubá, cheio de toques pros lados. Não fosse o Iniesta...
O grupo que fica no palco aproveita a deixa da conversa e toca o choro “Tico-tico no fubá”, de Zequinha de Abreu.
Músico: - Tico-Tico no Fubá, de Zequinha de
Abreu, não tem nada a ver com o América, nem com futebol, mas como vocês
citaram...
João Sem Medo: - Ah, e essa música é a cara do
futebol brasileiro. O nosso jeito moleque, alegre, criativo de jogar.
Músico: - Peço perdão aos senhores, pois
sabem muito mais de futebol do que eu, mas o chorinho ilustra muito bem o nosso
estilo de jogo.
João Sem Medo: - Sem dúvida. O estilo que nos
consagrou no mundo todo e que temos abandonado.
Ceguinho Torcedor: - Isso a gente não vê mais.
Veja também:
João Saldanha: - Quais jogadores brasileiros hoje
sabem driblar?
Os outros: - Ah, poucos, quase nenhum.
João Sem Medo: - O Neymar, mais uns dois ou três e
olhe lá.
Ceguinho Torcedor: - Mesmo assim ainda acredito que é
no Brasil que se produzem os melhores jogadores do mundo. Ainda somos os
maiores do mundo! Quem não pensa assim é porque tem complexo de vira-lata.
Garçom: - Já que estão falando sobre o drible, lembrei de uma música muito boa, do Chico César. Vou botar aqui pra
todos ouvirem.
Zé Ary vai ao notebook e põe nas caixas de som “Drible”, de
Chico César e Zezo Ribeiro (clique aqui pra ouvi-la).
Modificado e republicado em 18 de setembro de 2024
Fim do Capítulo #17
Esta série é uma homenagem especial a João Saldanha e Nelson Rodrigues e também a Mario Filho e muitos dos artistas da música, da literatura, do futebol e de outras áreas da Cultura do nosso tão maltratado país.
Saiba mais clicando aqui.
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