"Voo das Bruxas", Francesco de Goya |
para se achar
para se perder
Quantas portas trancar
para se aprisionar
para se proteger
Quantos muros erguer
para se esconder
para se encolher
Quantos labirintos percorrer
para se desafiar
para se vencer
Se quiser ter fácil
não será difícil
Se escolher conquistar
terá longo caminho
Se pedir verdade
só achará incerteza
Se encontrar mentira
pode ter certeza
Para ganhar ternura
enfrentará desdém
Para ter carinho
receberá palmadas
Para manter o corpo
venderá a alma
Para ser espírito
mastigará a carne
Por que quer ajuda
pra poder andar
Pra que andar
se já quer correr
Como quer correr
já pensou voar
Como olhar pra frente
de olhos vendados
Como escutar gemidos
de ouvidos tapados
Como gritar na noite
de boca amordaçada
Como cortar a garganta
se cegou a lâmina
O que fazer, poeta,
se nada há a dizer
O que escrever, poeta,
se o início,
que era verbo, faltou
Onde se lançar
com tantos abismos
Onde mergulhar
em meio a tantos mares
Onde sucumbir
ante tantos olhares
Onde se reerguer
com todo este peso
É o bicho-homem
A mulher-vampiro
Sangue degustado
Pele tão curtida
Soro em cada veia
De tubos PVC
Canos de descarga
Vasos sanitários
Pias batismais
Papéis higiênicos
Livros sagrados
Travesseiros sujos
Lençóis encardidos
Manchas de esperma
Vertiginosa vida
Loucuras deste mundo
Ressacas dessas praias
De bocas que vomitam.
"Onde mergulhar em meio a tantos mares" ... já ansiosa para o novo livro!
ResponderExcluirAgradeço muito, querida amiga. O próximo ebook deve trazer o texto da minha peça de estreia, a única encenada até hoje. Comecei a preparar já. Obrigado pelo apoio de sempre. Bjs.
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