Nem alegre, nem triste: poeta. Aprendendo a amar, nunca chegando na hora marcada.
segunda-feira, 28 de setembro de 2020
quinta-feira, 17 de setembro de 2020
A REVOLUÇÃO DOS BICHOS ESCROTOS
Ilustração de Odyr Bernardi |
Quando o ovo da serpente
se rompeu
- e já faz muito
tempo -
os ratos primeiro
hesitaram,
mas logo ficaram
seguros
de que não eram
poucos
e entenderam que
podiam deixar
os seus bueiros
imundos
para espalhar a
peste
por todas as ruas
de todas as cidades
em todo o país
A cadela no cio
uivou
insaciavelmente
e atraiu com seu
perfume embriagador
e nauseante
cérberos com
presas arreganhadas,
gengivas escuras
sangrentas
e uma baba venenosa
inclemente e
elástica
a pender quase ao
chão,
onde cascos e
ferraduras
marchavam ritmados
numa nova versão
de uma antiga
e
desgastada história
que nos livros
tiveram suas páginas
rasgadas
por quem não
se interessa
ou sabe
ler
Os porcos
cheios
de fantasias de
poder
excitados por um
novo
velho momento
que se repete como
farsa
desmentem-se cínica
e hipocritamente,
mas
quase todos sabem
com
quem estão falando
com o que estão
lidando
Pastores adestram
subservientes
ovelhas e cordeiros
a levarem os lobos
famintos
para revistarem
o galinheiro
onde os galos de
briga
já foram subornados
A cadela no cio
novamente uivou
e os vira-latas
imprestáveis
cada vez mais
excitados
e incitados
já não se contentam
mais
com as sobras,
juram vingança
e tocam fogo na mata
para a boiada passar
matando outros
tantos animais,
Tanto faz!
Ninguém vai mover
uma palha sequer
pra salvá-los,
muito menos
salvá-la.
terça-feira, 15 de setembro de 2020
MÚSICA PRA VIAGEM: UNICORNIO
A primeira de certamente muitas canções na maravilhosa voz de Mercedes Sosa que farão parte desta série não é das suas mais conhecidas por aqui. Porém, além de ser uma belíssima composição do cubano Silvio Rodríguez, "Unicornio" tem um significado especial para mim. No primeiro curso de espanhol que fiz, no fim dos anos 90, em Niterói, ela foi apresentada numa das primeiras aulas pela professora, uma senhora gaúcha da qual infelizmente não me lembro o nome, num gravador em fita cassete.
Ouvir aquela interpretação de La Negra, como a extraordinária cantora argentina era conhecida, e estudar a poesia de Rodríguez me deram duas grandes motivações: conhecer melhor a obra de Mercedes Sosa e a Língua Espanhola. Foi o que fiz durante um bom tempo, comprei alguns CDs de Mercedes Sosa e fiz um outro curso, no Centro do Rio de Janeiro, um ou dois anos mais tarde, pois não pude continuar naquele. Muito graças a esta música, pude posteriormente ler alguns livros de autores de língua espanhola no original, como "Del amor y otros demonios", do grande Gabriel García Márquez.
Gracías!
Veja também:
Adiós, La Negra
segunda-feira, 7 de setembro de 2020
MÚSICA PRA VIAGEM: 1974
Você se lembra de algo que vivenciou em 1974 (obviamente se já era nascido naquele ano)? Especialmente daquele ano tenho grandes recordações, quase todas relacionadas ao futebol, mas não só. Desde a primeira vez que ouvi esta música do grupo O Terço, de onde saíram dois integrantes do 14 Bis, Flávio Venturini e Sérgio Magrão, ainda - ou já - nos anos 80, viajo no tempo.
A música foi gravada no excelente álbum "Criaturas da Noite", de 1975, e acredito que estejam neste instrumental composto com sublime inspiração por Flávio Venturini, todos os acontecimentos daquele ano, o meu oitavo neste mundo. Em especial, o carnaval, para mim, está bem nítido. Curtam esta viagem, pela primeira ou mais uma vez, vale muito a pena.
sábado, 5 de setembro de 2020
O CHOQUE DOS BURACOS NEGROS NO BRASIL
O Brasil atingiu um nível intelectual, moral e emocional de eleitores e eleitos tão baixo, mas tão baixo, que o país corre o sério risco de, tendo algo um pouquinho melhor daqui para frente, parecerá para alguns um grande avanço. Com patamares tão subterrâneos, nos termos de comparação não fica difícil conseguir algo menos ruim, mas é bom ressaltar que sempre pode piorar. Por exemplo, com a reeleição de quase todos os atuais "representantes do povo".
Isso tudo é fruto de investimento em massa por décadas e décadas em deseducação, algo muito sério e claramente agravado pelo atual desgoverno, repleto de imbecis e gananciosos de todos os naipes. Vai ser difícil sair deste buraco negro em que nos metemos. Aliás, o choque de dois buracos negros que assustou recentemente cientistas ocorreu na verdade aqui e tem um pouco mais de tempo: o que já havia sido formado ao longo das últimas muitas décadas e o que veio em 2018.
Veja também:
O ódio presente
Fábrica de ídolos
Beco sem saída
Folia de Reis