sexta-feira, 30 de dezembro de 2016

UM ANO INESQUECÍVEL

Bem sabem os bem-pensantes, e nem precisam de grandes inclinações filosóficas para tal, que procurar o esquecimento é encontrar a lembrança. Por isso, nem adianta esquecer, porque 2016 será um ano inesquecível. De uma forma geral, por tudo o que as retrospectivas já vêm mencionando, e particularmente para mim e, possivelmente você que está lendo este texto, pelos mesmos e por outros tantos motivos. 

Foi - ou melhor, está sendo - muito difícil atravessar este longo e extenuante deserto, com raríssimos oásis. Eu me despeço deste ano com a certeza de que, se por um lado surgiram muitas decepções, tristezas e revezes, por outro vi reforçados o amor e a união, tive alegrias inesperadas e muito, muito aprendizado. E demasiado trabalho de criação, o que dá sentido e direção à minha vida.

Veja também:


Particularmente, a maior lição de 2016 foi "amizade não é para qualquer um". Este ano foi fundamental para reconhecer amizades onde achava que só havia coleguismo - um bom coleguismo, é bom que se ressalte - e ver reforçadas aquelas mais profundas, muitas de décadas. 

No entanto, falsidades nada surpreendentes foram ocultadas pela boa-fé, que muitas vezes nos embaça os sentidos. E foi também tempo de perceber que eram apenas turvos lagos que pareciam profundos. Para aqueles, a porta é trancafiada; para esses, será preciso que batam e esperem, pode ser que não sejam atendidos.

Nas inesperadas e muito bem-vindas novas amizades e naquelas com as quais sempre podemos contar sem riscos de decepção é que vamos reunindo as maiores alegrias da vida. E, certamente, elas trarão outras ainda maiores. Sem promessas, nem esperanças vãs, entrarei em 2017 com a força que me fez caminhar com as solas dos pés rachando, a sede matando, a pele queimando, as pernas ao mesmo tempo fraquejando e se fortalecendo, os cabelos embranquecendo, mais e mais. 

Desejo a todos que fazem por merecer, sempre - e não só neste próximo ano -, muita saúde, paz, amor e prosperidade. E não se esqueça: tentar se esquecer é mais lembrar e lembrar e lembrar... Até o ano que vem, na próxima estação!


quinta-feira, 15 de dezembro de 2016

CHEIRO DE CHUMBO NO AR

Toda roubalheira que amarra sujos rabos públicos a privados ainda fora das cadeias deflagrou uma guerra de nervos, vaidades e sobrevivência política, social e econômica entre os altos cargos dos 3 poderes da republiqueta. Há o medo do que ainda não foi exposto, não vazou. E das conseqüências do que já está saindo detrás das moitas obscuras.

Há o pavor de ver o próprio nome ser o próximo da interminável lista de delações. A apreensão, as tremedeiras, cólicas, diarreias, as insônias de quem nunca perdeu a noite por dor de consciência explodiram em ataques. E defesas desesperadas, violentas. Negações, negações, recusas ao que antes era facilmente aceito.

O que era achaque na surdina (ou nem tanto assim, pois de bobo só há o povo), virou ataque. Histeria, teimosia, mal-criação. Escândalos. Calhou de ser assim cunhada a História, e talvez estejamos retrocedendo sem perceber. Os corvos e abutres que se cuidem. E os alvos diários das rapinas, mais ainda.

Democracia é uma palavra muito bonita. Mas ela é sinônimo de utopia nesta terra que Thomas Morus certamente não conheceu. Sorte a dele. Acharia bem bela por fora, bem podre por dentro. Cabral só viu beleza e quem foi que "nos estrepamos"? Mais nós do que ele, claro. Democracia não cabe num lugar em que tão poucos por cento ficam com tantos por cento da renda, e tantos, tantos, cada vez mais, detenham tão pouco para dividir. Dividir? Meu pirão primeiro. E este precipício social vai do topo junto ao céu ao mais profundo dos vales abissais. Não, não é ilusão de ótica. 

Mas há miopias graves. Verdadeiras cataratas, quase cegueira. Poucos percebem, mas o que era uma pequena rachadura, já se alastrou: virou brecha, mais um pouco será um buraco (se é que já não atingiu este estágio) e, em breve, será um rombo gigantesco para as já chamadas - em outros tempos - forças ocultas penetrarem facilmente e agirem (ou melhor, reagirem).  

Não dá para ver, mas dá para sentir o cheiro de chumbo no ar. E orar, agora, só vai piorar.

Veja também:

sábado, 3 de dezembro de 2016

POESIAS CANTADAS 5: DISSIPAÇÕES

Aqui vai mais um vídeo com uma poesia cantada. "Dissipações" também já havia sido publicada aqui neste blog e retirada numa época em que resolvi esconder parte do meu trabalho. Não tem resposta, portanto nem adianta perguntar o motivo. Aqui vai ela, então, agora com som (os versos estão abaixo do vídeo).



DISSIPAÇÕES
(Eduardo Lamas)

Há tanta dor
largada pelo caminho
Tanto amor
deixado pela estrada
Tanta luz
desperdiçada na escuridão
Tanta sombra
perdida no espelho

Nas calçadas repletas
No asfalto escaldante
Nos botecos imundos
Nos bares da moda

Há tantas pegadas
que ainda erram pelas madrugadas
Na areia das praias
Nas calçadas rachadas
No asfalto vazio
Nas pistas de dança

Tantas gotas de suor
misturadas nas águas do mar,
dos rios, lagos, copos e corpos
Tanto odor, ardor e a dor
nos dias de festa, carnaval.

Visite o meu canal no Youtube e se inscreva. É só clicar aqui.

Veja também:
"O negro crepúsculo", um livro muito bem recomendado

sábado, 26 de novembro de 2016

POESIA CANTADA: SALVAÇÃO E PERDIÇÃO

Sem muito papo desta vez, pois já me expliquei demais. Aí vai mais uma poesia cantada em ritmo blues.


SALVAÇÃO E PERDIÇÃO
(Eduardo Lamas)

Nesta noite eu choro
Não posso salvar
uma alma perdida de si
só tenho potência pra me salvar
das minhas mediocridades, limitações
e desejos de salvação

Vejo no olhar baço, fugidio,
a desesperança, a auto-vingança
E tudo que faço é buscar
ora em vão, outras não,
aquilo que me amansa

Nada, nada, nada
que me faça perder
de vista
a longa e sinuosa estrada
me fará parar agora

Porém é preciso seguir com
o olhar generoso e atento
pra não despencar do penhasco
que sempre aparece
depois de uma curva fácil.

Veja também:
O caminhante
"Cor própria", o primeiro que veio a ser o quinto
"Contos da bola": quem lê recomenda
"Sutilezas", amor, paixão e surpresas

sábado, 19 de novembro de 2016

POESIA CANTADA: CHORO REPRESADO É SINAL DE CHUVA

Ao começar essa série de vídeos com "Que me diz você?" - e depois com ""O rio" entrelaçado à "Sequidão"" - tive o cuidado de explicar os meus objetivos e deixar claro que não sou músico, cantor, nem ator, diretor, muito menos videomaker. Mas talvez tenha deixado escapar algo que, por me incomodar, vou corrigir aqui, antes de apresentar "Choro represado é sinal de chuva". Disse que criei melodias para as poesias que já tinha escrito e em determinados momentos chamei de música. Creio que na verdade não, ainda não são, se é que um dia serão. São na verdade poesias cantadas, que entendi ficarem melhores do que declamadas, algo que nunca soube bem fazer, mas que mesmo assim me arrisquei com "O Rio", fabulosa poesia de João Cabral de Melo Neto que ainda ousei editar e misturar aos versos "melodiados" de "Sequidão".

Não vou editar os vídeos em que chamei de música o que fiz - talvez nem os que já estão gravados e ainda não postei em lugar algum -, mas fica aqui registrado então o que creio ter feito. Mal ou bem cabe a você; a mim, continuar com as poesias cantadas. Acredito que, como já escrevi anteriormente, as palavras, os versos e a própria poesia ganharam novas cores, sentidos, força, entonações e entoações com a melodia que cada uma recebeu. O que você acha?

Aí abaixo vai uma poesia que abre um dos capítulos do romance "O negro crepúsculo" e que já havia publicado aqui (retirada posteriormente) e no Jornal Portal, e que para minha surpresa renasceu com um ritmo de samba. Vamos lá, em breve vem mais.


CHORO REPRESADO É SINAL DE CHUVA
(Eduardo Lamas)

Lágrimas represadas
choro que não vem
horizonte que se aproxima
pingos d’água pisoteiam o chão

Lava terra, lava alma
ar em rebuliço
corpo em polvorosa
um sem espaço
que se ocupa
imensidão que se reduz

Um oceano inteiro
no brilho de uma gota
que me afoga pela boca
um mundo inteiro
no esfarelar de uma pedra
que me enterra pelo peito


Veja também:
Filipe Catto entre cabelos, olhos, furacões
Entrevista: Nilze Carvalho
"O negro crepúsculo" saiu em papel
"O negro crepúsculo", um trabalho de 11 anos

quarta-feira, 16 de novembro de 2016

PENSO,LOGO SINTO 27

O pior câncer do Brasil são os roubos feitos dentro da lei, de regulamentos, regimentos, normas, muitas vezes aprovados pelos próprios beneficiados. Refiro-me a todo tipo de mordomia, ganhos astronômicos, bolsas e auxílios extras (a parentes e amigos, inclusive), casas e apartamentos oficiais, carros, aposentadorias especiais, concedidas fartamente nos três poderes (executivo, legislativo e judiciário) em municípios, estados e na federação e em empresas e órgãos públicos. É o pior câncer, porque é o mais difícil de extirpar, pois está enraizado na lei e na cultura da boquinha, do fisiologismo, do nepotismo, do cinismo e da hipocrisia. Esta é a verdadeira e duradoura crise deste país doente.

Para não dizer que não falei das flores, um ótimo e raríssimo exemplo do que deveria ser a regra: http://www.tribunadainternet.com.br/reguffe-do-pdt-abre-mao-de-todas-as-regalias-de-senador/

Veja mais:

sexta-feira, 4 de novembro de 2016

POESIA CANTADA: QUE ME DIZ VOCÊ?

Versos sempre escrevi e ousei publicar por aí, em papéis diversos, reais e digitais, onde as portas se abriram e entrei com todo respeito e educação. Onde fecharam, dei as costas e parti. Mas é com igual respeito, educação e amor que peço licença à musa Música para adentrar em seu maravilhoso recinto. Chego devagar, mas com certa audácia, pois não sou cantor e não toco sequer um instrumento. 

E peço desde já desculpas pela maneira como chego, não tão bem arrumado para a ocasião e com alguma fome e sede, mas - tenho a certeza - com a dignidade que não falta a quem um dia foi impelido a escrever e agora desandou a melodiar os versos seus. Eu, os meus. Isso mesmo, eu!

Veja também:


Parece absurdo, mas não é tanto assim. Afinal, venho de uma família com músicos, antepassados e presentes, e de muitos amadores da Musa Música. Nada mais natural que ela brote dentro de mim como os versos tantos que já publiquei. Uni um ao outro, de forma sutil e agradável. 

Enquanto atravessava um longo deserto, nasceram 16, 17. A aridez que me deu esses oásis sonoros para suportar melhor a longa e árdua jornada está chegando ao fim, e meus pés lanhados, com o solo do meu peito rachado, como relato em "Sequidão", estão cicatrizando aos pouquinhos.

Aqui, pergunto "Que me diz você?", pois dizer já disse e continuarei dizendo. Até cantando, mesmo sem ser cantador, mesmo sem ter um instrumento que me acompanhe. Estou quase solitário, como caminhei pelo deserto. Quase, porque amor não me faltou (nem me falta) para receber e dar também. 

E meu amor esteve de mãos dadas comigo o tempo todo. Foi o sentimento-mór, o alimento diário que me proporcionou a força necessária para estar aqui depois de tantas pedras, dos mais variados tamanhos, vendavais, tempestades de areia. As intempéries, inesperadas em sua maioria, também me deram incomensuráveis forças. Portanto, agradecê-las-ei - sem temer - também.


QUE ME DIZ VOCÊ?

Que me diz você mais do que a morte,
a ressurreição e sua dança,
o aspirar um novo ar,
o banhar a alma
com uma chuva quente,
o respingar de gotas cintilantes,
todo ser em harmonia,
o libertar o corpo
de amarras invisíveis
E senti-lo crescer
Sem sair do lugar?

Apenas luta sem trégua,
Guerra civil do ser
sem fins, sem meios,
sem terras, sem gritos de liberdade,
Cadeias ou fugas,
Tronos ou poder;

Apenas a vida
pulsando na pele,
No coração e na mente,
Sem dispersão,
Tudo fluindo e confluindo,
Se expandindo e condensando
E vibrando, tremeluzindo
Rumo à essência do ser.

Veja também:
Um tanto de grandeza e muito de coragem
É preciso respeitar a dor do universo
Nau Poesia: Esperar pelo sol
"Atrasado", um conto em ebook

sexta-feira, 14 de outubro de 2016

NO BANCO DA PRAÇA

Foto: Fábio Rogério (Jornal Cruzeiro, Sorocaba-SP)
Andava sem rumo, pensativo, remoendo problemas e removendo alegrias do fundo do baú da memória, quando me vi dentro de uma ampla praça no centro de uma cidade que já não me reconhecia mais. Nem eu a ela. Reparei num lugar vago ao lado de um senhor e lá me sentei, sem a menor vontade de trocar sequer uma vírgula de idéia. Não com ele, especificamente, com ninguém. Mas ele falava, parecia um mantra, e tive de me curvar discretamente para ouvir e ele não perceber. O senhor repetia baixinho: "Coitado do povo, coitado do povo, coitado do povo...". Quando entendi o que dizia me postei virado para o lado oposto, o direito, para não correr o risco de ter as lamúrias voltadas para mim em busca de algum apoio ou mesmo de uma represália. Longe de mim, pensei. E ele se foi.

Resolvi ocupar o lugar em que o senhor estava. E voltei aos meus pensamentos e voei para um lugar no meu passado longínquo que já pensava - ou melhor, já não mais pensava - estar banido das gavetas das lembranças. E chegou outro senhor de cenho franzido, carrancudo. Sentou-se ao meu lado e começou a falar alto: "Maldito povo, maldito povo, maldito povo...". Virei-me desta vez para a esquerda, que era o lado oposto da vez. Ele parecia cego em seu ódio, nem reparou em mim, ainda bem. Não queria ter qualquer diálogo ou embate com aquele ser vociferante. Longe de mim, longe de mim. E ele se foi.

Desloquei-me ao centro do banco da praça. Quando pensei em voltar ao meu mundo imaginário, eis que os dois senhores se aproximam ao longe discutindo asperamente em minha direção. Fiquei paralisado, meio sem saber o que fazer. O lamuriento se sentou desta vez à minha direita e o raivoso, à esquerda. Só pararam de discutir, quando se sentaram e viram que eu estava entre eles e tinha posto as mãos tampando os ouvidos. O silêncio deles me despertou. Olhei para os dois, bem dentro de seus olhos e disse meio que para mim, meio que para eles, antes de me levantar e sair dali a passos apressados: "Vocês são o povo! Nós somos o povo! Bem feito pro povo!". 

E lá fui eu com as palavras "maldito" e "coitado" ressoando na minha cabeça ainda atormentada sem me deixar voltar aos meus problemas e às minhas alegrias.

Veja também:
A Terra de Salgado
Garrincha, 77
Mais uma sobre Educação

sexta-feira, 7 de outubro de 2016

NAU POESIA: AMORES*

Obra de Juarez Machado
Amor por inteiro
Amor por dinheiro
Amor interesseiro

Amor profundo
Amor vagabundo
Amor pelo mundo

Amor sem graça
Amor desgraça
Amor mordaça

Amor desinteressado
Amor desapegado
Amor safado

Amor espiritual
Amor racional
Amor visceral

Amor ocidental,
Amor oriental
Amor acidental

É tudo isso o mesmo amor?
É tudo isso mesmo o amor?
É tudo isso mesmo, amor?

Amor fraterno
Amor materno
Amor subalterno

Amor à primeira vista
Amor a perder de vista
Amor pago à vista

Amor com vaidade
Amor com piedade
Amor sem idade

Amor possessivo
Amor lascivo
Amor excessivo

Amor secreto
Amor discreto
Amor sem teto

Amor sofrido
Amor sem libido
Amor fodido

É tudo isso o mesmo amor?
É tudo isso mesmo o amor?
É tudo isso mesmo, amor?

Amor exclusivista
Amor egoísta
Amor exibicionista

Amor casual
Amor usual
Amor sem igual

Amor de pele
Amor que escalpele
Amor que impele

Obra de Juarez Machado
Amor que se supôs
Amor que se impôs
Amor que ficou pra depois

Amor de olhar
Amor de calar
Amor de urrar

Amor religião
Amor comunhão
Amor pagão

É tudo isso o mesmo amor?
É tudo isso mesmo o amor?
É tudo isso mesmo, amor?

Amor demais
Amor que ficou pra trás
Amor de meter por trás

Amor que trai
Amor que distrai
Amor que contrai

Amor dependente
Amor conveniente
Amor subserviente

Amor grudento
Amor marrento
Amor bem lento

Amor que une
Amor que desune
Amor que pune

Amor sem sexo
Amor sem nexo
Amor só sexo

É tudo isso o mesmo amor?
É tudo isso mesmo o amor?
É tudo isso mesmo, amor?

Obra de Juarez Machado
Amor perigoso
Amor dadivoso
Amor pegajoso

Amor displicente
Amor indigente
Amor ardente

Amor querido
Amor bandido
Amor proibido

Amor solidário
Amor solitário
Amor sanguinário

Amor disneylândia
Amor cascadura
Amor sem piedade

Amor de gay
Amor, não sei
Amor, cansei

É tudo isso o mesmo amor?
É tudo isso mesmo o amor?
É tudo isso mesmo, amor?

* Originalmente, "Amores" havia sido publicado neste blog em 8 de outubro de 2013 (portanto, quase exatos 3 anos atrás) e teve os seguintes comentários:

Anônimo terça-feira, outubro 08, 2013 
Amei!!!
Fernando Cid

Ana Claudia Medina terça-feira, outubro 08, 2013
É tudo isso mesmo o Edu? Adorei!!!!

Dra. Denise terça-feira, outubro 08, 2013
É tudo isso o mesmo amor?
É tudo isso mesmo o amor?
É tudo isso mesmo, amor?
Tudo isso e muito mais, Edu...você me escreveu uma pequena parte do que já desenhava essa poesia, mas isso aqui, depois de pronto...bem, isso aqui é AMOR e muitas das suas formas.
Mais uma vez você compartilha sua alma com seus leitores. Lindo.

Lida Marina Hurovich Neiva quarta-feira, outubro 09, 2013
Muito inspirado!!! e inspirador (me deu vontade de pintar), abraço

** Esta poesia abre o ebook "Sutilezas", lançado em 2019. Para adquirir o seu clique aqui.

Você ainda pode ouvir "Amores", num episódio do LamasCast, é só clicar aqui ou aqui.

Veja também:
A memória viva de Mandela
Nada mais

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quinta-feira, 15 de setembro de 2016

"O NEGRO CREPÚSCULO", UM TRABALHO DE 11 ANOS

Comecei a escrever "O negro crepúsculo" em 2004 e só me dei por satisfeito no fim do ano passado. Foram 11 anos criando brechas de tempo na correria interminável do dia a dia para escrever e chegar onde desejava. Classifiquei de romance apenas por uma questão editorial mercadológica, pois a narrativa é cercada de poesias abrindo cada um dos capítulos (com exceção do primeiro e do último - último?), além de crônicas e reflexões do personagem c.j. marques. O que é o pano de fundo?

Alguns jornalistas e escritores, como Luiz Antonio Mello, Marcus Veras e Bruno Lobo, e outras pessoas das mais diversas áreas, aos quais agradeço muito, muito mesmo, elogiaram bastante o livro. Revisei incansavelmente - e sempre acho algo para mudar cada vez que o releio -, editei, incluindo a foto de capa, na qual não pus absolutamente nada escrito, inspirado em alguns LPs de bandas que admiro - e o lancei no formato digital e independente, só com a ajuda da tecnologia e da possibilidade aberta pela Amazon.

Há quem não tenha entendido perfeitamente ainda, por isso faço questão de esclarecer: não faço isso por hobby, para aparecer, não é um passatempo, é meu ofício, minha vocação. "Escrevo para não sucumbir".

Assim como "Profano coração", livro de poesias que lancei de forma tradicional em 2009 e que publiquei com 4 poemas extras na versão digital em julho do ano passado, "O negro crepúsculo" está em promoção por tempo limitado, custando apenas R$ 4,50 (veja aqui: http://goo.gl/SdKSqU). Meu livro de estreia custa menos ainda neste período, somente R$ 1,99 (aqui: http://bit.ly/1L3rcqW).

Aguardo por seu interesse, leitura e opinião (qualquer que seja ela). Ótimo dia!

Veja também:

sexta-feira, 26 de agosto de 2016

GERALDO, UM ASSOVIO QUE AINDA SE OUVE

Geraldo assoviava para a bola. Foto: Placar
A morte de Geraldo, há exatos 40 anos, marcou profundamente a minha infância. Era ele, ao lado de Zico e Doval, o craque do meu time que mais gostava de ver jogar. Os dois eram amigos e se entendiam em campo maravilhosamente bem. Tanto, que ambos foram logo convocados para a seleção brasileira, pelo então técnico Osvaldo Brandão, que substituiu Zagallo após a campanha apenas regular na Copa de 1974.

Tinha eu apenas 10 anos, completados pouco mais de um mês antes, quando recebi a triste notícia, acho que pela minha mãe, que teria ouvido no rádio. Geraldo, o Assoviador, tinha apenas 22 anos de idade e morreu na mesa de cirurgia para extração das amígdalas.

Na minha memória sempre ficou a corrida cadenciada pelo gingado natural e a cabeça em pé, por pouco precisar olhar para a obediente bola, grudada aos seus pés, especialmente o direito, que invariavelmente só o largava quando ele a mandava com perfeição a um companheiro ou ao gol adversário. O amigo Pintinho, que jogava no Fluminense, tinha um estilo bastante semelhante. Geraldo tinha a elegância de um mestre-sala com a bola a lhe acariciar as chuteiras toda vez que assoviava para ela.

Em pé: Valdir Perez (São Paulo), Chicão (São Paulo), Nelinho (Cruzeiro), Miguel (Fluminense), Amaral (Guarani) e Marinho (Botafogo). Agachados: Flecha (América-RJ), Geraldo (Flamengo), Palhinha (Cruzeiro), Rivelino (Fluminense) e Lula (Internacional). Foto do arquivo da CBF. 
Vejo em pesquisa que ele atuou em sete jogos na seleção, entre 75 e 76, com seis vitórias e apenas uma derrota. Participou das conquistas da Taça Atlântico, Copa Rocca e Taça Oswaldo Cruz, todas em 76. No Flamengo, foram 169 partidas, com 96 vitórias, 40 empates e 33 derrotas. Marcou 13 gols no time rubro-negro, fora os inúmeros passes perfeitos para os companheiros marcarem. No Rubro-Negro, conquistou entre muitos troféus, a Taça Guanabara de 73 e o Campeonato Carioca de 74. Ele estreou em 25 de junho de 1973, na vitória de 1 a 0 sobre o Goiás, em amistoso na Gávea, e se despediu involuntariamente em 4 de agosto de 1976, na derrota de 3 a 0 para o Americano, no Estádio Godofredo Cruz, em Campos, pelo Campeonato Carioca.

Pesquisando um pouco mais, fiquei sabendo que naquele último ano de vida, apesar das grandes atuações, dos muitos elogios feitos pelo técnico da seleção e das seguidas convocações, Geraldo vinha tendo constantes problemas com dirigentes rubro-negros, que já começavam a cogitar, mesmo que sem alarde, a negociá-lo. O que seria uma verdadeira estupidez. Ele já tinha até sido punido por um problema na Bahia, para onde teria sido obrigado a viajar, mesmo machucado. O seu procurador já falava em Olympique de Marselha e Real Madrid, e o Botafogo também teria demonstrado interesse.

Geraldo, Doval (7) e Zico em um jogo no Maracanã. Foto: Sport/MB Media
Essas divergências já faziam parte da torcida contestá-lo, ainda mais depois da perda da Taça Guanabara para o Vasco, nos pênaltis (Geraldo fez o belo gol de empate no tempo normal, mas assim como Zico, que daria a vitória ao Flamengo se marcasse, desperdiçou a sua cobrança). Isso só comprova que desde aquela época a diretoria conseguia manipular alguns integrantes da massa. Na verdade, Geraldo teve algumas dificuldades desde que chegou ao Flamengo, vindo de sua terra natal, a mineira Barão de Cocais, com 16 anos.

Ele teve uma grave doença logo no início, e o clube o ajudou a curá-la. Isso, segundo Geraldo, foi usado várias vezes para tentar enquadrá-lo. Ao mesmo tempo em que se destacava em campo, acumulava problemas com treinadores e dirigentes, fora dele. Por outro lado, era muito querido por companheiros, funcionários do clube e até adversários, como seus amigos Pintinho e Paulo Cézar Caju. Geraldo era irmão de Washington, zagueiro que também jogou no time da Gávea e que é pai do zagueiro português Bruno Alves, um dos integrantes do time campeão da última Eurocopa.

Foi em memória de Geraldo e para arrecadar fundos para ajudar a sua família que o Flamengo enfrentou a seleção brasileira, formada basicamente por jogadores que haviam sido campeões no México, em 70. O jogo foi realizado no dia 6 de outubro de 76, e o time rubro-negro venceu por 2 a 0, gols de Paulinho e Luiz Paulo. Foi a primeira vez que vi meu time jogar de luto. Uma vitória triste. Como bem disse Zico, era uma partida que - apesar do imenso prazer que ele e seus jovens companheiros tiveram de enfrentar Pelé, Jairzinho, Rivelino, Carlos Alberto Torres e companhia - jamais gostaríamos que fosse realizada.



Vídeo: TheBigzaum
Veja também:
Futebol-arte: os maiores jogos de todos os tempos 11
Alguns jogos que faço questão de recordar

quarta-feira, 3 de agosto de 2016

"O NEGRO CREPÚSCULO" PELO MUNDO

Muitos já sabem, alguns até já compraram nos Estados Unidos e na Inglaterra, mas é sempre bom que mais gente saiba: não é só no Brasil que se pode adquirir "O negro crepúsculo", que está à venda aqui, é só clicar. Nos EUA e diversos outros países, por exemplo, há a opção da Loja Kindle da Amazon.com. Se é o seu caso, clique aqui para comprar o seu.
"O negro crepúsculo" à venda no Japão

Abaixo, passo uma lista de outros países em que você pode comprar o livro, publicado em versão digital para ser lido em qualquer dispositivo (smartphones, tablets e computadores pessoais). É só clicar no país em que você está neste momento que você estará a dois passos de "O negro crepúsculo": 


Avise aos seus amigos que moram no exterior.

Veja também:

terça-feira, 26 de julho de 2016

"O NEGRO CREPÚSCULO", UM LIVRO MUITO BEM RECOMENDADO

"O negro crepúsculo", segundo livro de minha autoria, tem recebido elogios de conceituados escritores e jornalistas. Luiz Antonio Mello, jornalista, radialista, produtor musical e escritor, o homem que criou com Samuel Wainer Filho, a histórica rádio Fluminense FM, a Maldita, publicou em seu blog, Coluna do LAM:

"Já escrevi (e, com prazer, escrevo de novo) que o carioca Eduardo Lamas é um dos mais talentosos escritores de sua geração, com trânsito em diversos estilos e texturas. Acompanho o seu trabalho há vários anos e recomendo, com muita satisfação, o seu novo romance".

Outro grande jornalista, escritor e empresário das áreas de Comunicação e Cultura (Coringa Comunicação), Marcus Veras escreveu:

"Dono de uma primorosa capacidade de trafegar entre a ficção e a poesia, Eduardo Lamas escreveu um romance onde o mote é a busca pelo amor. Enquanto vara as ruas da cidade a bordo de seu táxi, o narrador desfia as dobras de seu coração apaixonado. Altamente recomendado para quem acha que a paixão move o planeta!"

O livro também é indicado por outro grande jornalista, Bruno Lobo, editor do Globoesporte.com:

"Já havia lido o ótimo livro de poesias de Eduardo Lamas (Profano Coração), e fiquei bastante impressionado com O Negro Crepúsculo. O autor consegue unir poesia e romance/crônica num estilo bem original. Recomendo muito a leitura".

Adquira o seu clicando aqui.

Veja também:

segunda-feira, 18 de julho de 2016

PENSO, LOGO SINTO 25

Ode aos resistentes: manter-se digno, motivado e sem rancor num lugar como esse é, sem dúvida alguma, um ato de feroz resistência.

Veja também:
Questão Em Questão 4
Penso, logo sinto 12
Gasolina no incêndio 11
Estilhaços 4

sexta-feira, 15 de julho de 2016

ESTILHAÇOS 16

Ajoelhado aos pés de seus erros, implorava perdão. Como nunca ficava de pé, jamais foi perdoado.

Veja também:
Estilhaços 12
Estilhaços
Os muros

segunda-feira, 20 de junho de 2016

CALAMIDADE

Calamidade pública
São os políticos
Deste estado de
Calamidade pública
São os políticos
Deste estado de
Calamidade pública
São os políticos
Deste estado de
Calamidade pública...

Clicaê quem curte CDs e vinis! 


sexta-feira, 17 de junho de 2016

"O NEGRO CREPÚSCULO" NA RÁDIO JORNAL, DO RECIFE

Fui convidado na semana passada pela produtora Marcela Maranhão para falar na noite de sexta, dia 10/6, sobre o livro "O negro crepúsculo" para o programa Movimento, da Rádio Jornal, do Recife. Porém, acabei tendo o imenso prazer de conversar também sobre música brasileira e, em especial, da minha profunda admiração e respeito pela cultura e a arte pernambucanas, já manifestada neste blog tantas vezes (veja os links no fim da postagem).
Fui entrevistado pelo apresentador Marcelo Araújo, mas pude conversar também com o escritor Amaro Filho, que estava no estúdio para divulgar o livro "Pífanos do Sertão", lançado dois dias depois na capital pernambucana.
Convido você a ouvir o programa no vídeo abaixo. A minha participação vai de 15m20 a 27min23.



Nunca é demais lembrar, o livro está à venda neste link http://goo.gl/SdKSqU e também em qualquer lugar do mundo onde se pode comprar pela Amazon.

Veja também:
Ariano Suassuna é eterno
A nova dinâmica da viola de Hugo Linns
Os sopros mágicos de Carlos Malta
Antúlio Madureira, mestre de obras-primas
O teatro e o futebol

sexta-feira, 3 de junho de 2016

"O NEGRO CREPÚSCULO" EM DESTAQUE NA MÍDIA

Pouco a pouco o livro "O negro crepúsculo", o segundo que publico, vai conquistando leitores e mais espaço na mídia. Já concedi algumas entrevistas, duas para rádio (Nacional e Livre, ambas do Rio de Janeiro), uma para o jornal O Fluminense, de Niterói (RJ), e outra para o conceituado Blog da Simone Magno, especializado no mundo dos livros e da literatura.

Não é fácil ser escritor em qualquer lugar do mundo, ainda mais num país como o Brasil, muito pouco interessado em Educação, por conseqüência, em leitura. Mais difícil ainda é ser também editor e divulgador do trabalho (até a foto da capa fiz desta vez). Porém, a tecnologia hoje facilita a vida de quem procura fazer bom uso dela e, graças a isso, estou podendo fazer meu trabalho de formiguinha, independentemente, e expandindo o alcance de "O negro crepúsculo" - e também de "Profano coração", o primeiro que lancei -, inclusive para o exterior.

Só tenho a agradecer a todos que estão abrindo espaço para o meu trabalho e os leitores de várias partes do país e do mundo que estão adquirindo o livro. Se quiser adquirir o seu aqui no Brasil, o link é este: http://goo.gl/SdKSqU. Em outras partes do mundo, "O negro crepúsculo" pode ser comprado no site local da Amazon.

Confira abaixo, os veículos e profissionais de comunicação que falaram - ou me deixaram falar - sobre o livro (clique no nome e veja o que foi publicado):

Ativa e Prática (Rio de Janeiro);
Blog dos Mercantes (Macaé-RJ);
Branca Salgueiro (Rio de Janeiro);
Canto do Livro (Maricá-RJ);
Coluna do LAM (Rio de Janeiro);
Cultura, Gastronomia e Lazer (Rio de Janeiro);
Jornal Portal (Rio de Janeiro);
O blog da Simone Magno (Rio de Janeiro);
O Debate (Belo Horizonte);
O Fluminense (Niterói-RJ);
O Hoje (Goiânia);
Revista D’Ávila Digital (Campinas, Indaiatuba e Salto-SP);
Revista Ponto Jovem (São Paulo), e
Sopa Cultural (Rio de Janeiro).

Confira abaixo a entrevista que concedi ao programa Repórter Rio, da Rádio Nacional:

Veja também:
"O negro crepúsculo", não perca!
Profano coração" está de volta
"Profano" conquista corações
Oferenda (ou canção de um ser dilacerado)

sexta-feira, 27 de maio de 2016

ESQUIZOFRENIA *

O ser cindido vive em dois mundos: o real e o imaginado. Além deles, ainda se pode considerar um terceiro (a terceira margem?), o da tênue linha fronteiriça que separa um do outro. Todo artista de verdade possui algum grau de esquizofrenia. Postado racionalmente no mundo mesquinho da realidade, dos afazeres práticos e ou reconfortantes, o homem age maquinalmente, absorve ordens, cumpre seus deveres, exige direitos (até os que não tem), diverte-se, joga conversa fora e flana sobre a superficialidade apenas tangenciando-a. Na era do entretenimento paranóico, esta é a lei.

No entanto, quando o homem avança, mergulha e investiga com todos os seus sentidos aguçados e concentrados o mar infinito que é seu próprio ser ou atravessa a pesada porta que o impele a não sair do lugar e vai onde quanto mais fundo, mais escuro e denso, torna-se possível trazer algo novo à tona e se tornar um ser criador.

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Mas aqui não cabem ilusões, paga-se um alto preço por isso, muito alto. Não ser compreendido, é apenas um. O pior de todos é não conseguir sair da fronteira: desprezar a superficialidade e não se aprofundar. Ficar preso ao imaginário e ao caos interior ou confundi-lo com o real é outro grande risco que se corre. É a doença, quando o homem é controlado por sua mente, quando ele se faz refém de si mesmo. Alguns artistas se afundaram nessa, muitos empurrados pelas drogas alucinógenas encontraram a sua morte, física ou mental.

Porém, a mediocridade de não escolher, de não decidir, a falta de coragem para romper barreiras e se acautelar faz do homem um rato medroso, um medíocre. Faz a alma humana aprisionada no corpo do cão o olhar com desprezo. E a fraqueza ou falta de fôlego para retornar e trazer a boa nova o joga no limbo, é também apenas um existente.


* Este texto já havia sido publicado e retirado por mim algumas vezes aqui. Agora daqui não sairá mais 

Ilustração:"Only opens, when open for fantasy", de Ben Goossens.

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sexta-feira, 6 de maio de 2016

NISE DA SILVEIRA: O AFETO E A ARTE COMO PODER

Nise da Silveira
Glória Pires não me parece nos seus melhores dias (como Lota Macedo Soares em "Flores raras" ela está bem melhor, no meu modo de ver), o filme não ficará na História do cinema, mas "Nise - O coração da loucura", dirigido por Roberto Berliner, merece ser visto por todos os brasileiros. Todos, sem exceção. E nem tanto pelas maravilhosas interpretações dos atores que encarnaram os loucos do Hospital Psiquiátrico do Engenho de Dentro, mas pelo maravilhoso exemplo que representa a doutora Nise da Silveira. Uma brasileira que nos faz lembrar que não é só de pilantras, bandidos, corruptos, ególatras e mal-amados vive este país.

Infelizmente, temos visto cada vez mais a nossa imprensa (mídia) e nossos (des)governos dando mais valor aos que nada valem, do que àqueles que mereciam uma estátua em cada esquina desta imensa terra. Nise da Silveira enfrentou um mundo altamente machista, ególatra, frio e indiferente ao outro, os pseudo-deuses da medicina, para fazer valer o afeto. E com essa ferramenta poderosa fazer seus esquizofrênicos se transformarem em grandes artistas e - muito mais do que isso - conseguirem levar uma vida digna e serem respeitados.

Curiosamente, antes da sessão de cinema (mais uma vez tive de me deslocar para a sempre privilegiada Zona Sul), passou o trailer de um filme sobre um "ídolo" daquela pancadaria vale-tudo que não preciso citar. E logo no início de "Nise" há uma cena de uma briga selvagem entre dois loucos, incentivados por outros mais dementes enfermeiros, funcionários e outros pacientes, ou melhor clientes, como a doutora gostava que os chamassem. Qual a diferença entre uma selvageria e outra? Só no cenário mais rico e arrumadinho das rinhas humanas bancadas por empresas milionárias e televisões poderosíssimas. Todos dementes.

Um dos brigões do Engenho de Dentro, o mais violento, é Lúcio Noemann, que através do trabalho paciente e amoroso de Nise da Silveira, pôde se revelar um artista de mão cheia. Não para esmurrar adversários ou inimigos, mas para esculpir, moldar, criar obras de arte. E emocionar. Do mesmo modo, Emygdio de Barros, Adelina Gomes, Raphael Domingues, Carlos Pertuis e Octavio Ignacio (clique aqui para saber mais no site do Museu de Imagens do Inconsciente)

Emygdio de Barros

Houvesse uma enquete nas ruas deste país para saber quem conhece ao menos um pouco do legado de Nise da Silveira para o mundo, duvido que os resultados fossem animadores. Isso é que é triste, isso é que é loucura. Uma das muitas faces da loucura compartilhada diariamente por aqueles que vivem no lado de cá dos muros manicomiais.
  

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Apesar do trabalho revolucionário e humanista capitaneado pela doutora Nise da Silveira, ainda na década de 40, a poucos quilômetros do Rio de Janeiro, em Barbacena (MG), um verdadeiro campo de concentração matava lentamente e lucrava muito com a venda de corpos, como descrito no livro "Holocausto brasileiro", de Daniela Arbex.

Veja também:
Fábrica de ídolos
A Terra de Salgado

quarta-feira, 20 de abril de 2016

ANTI-LUTHER KING: A E.E.RA DAS TREVAS


Eu tive um pesadelo. Eu tive um pesadelo terrível esta noite. Nele vi claramente algo que só pressagiava remotamente no início dos anos 90: meu país elegeu para a Presidência uma chapa formada pelo candidato que ama torturadores e assassinos e outro influente colega "cristão". Foi ruidosa e raivosa a festa, se é que pode se chamar de festa milhões de pessoas de dentes trincados, cenhos franzidos, olhares injetados, bocas contorcidas, esgares dos mais variados a urrar palavras de ordem, contra tudo e todos que ousassem discordar da nova-velha Era.

Meu pesadelo certamente revelou em poucas horas os acontecimentos de anos. Perseguições, torturas, pessoas atiradas à fogueira e enforcamentos em praça pública aos adeptos de religiões afro, católicos, ateus, índios, gays, qualquer opositor daquele regime de horror instaurado por vias "democráticas". A maioria estava com o novo líder. E desfilavam impecavelmente uniformizados para e por ele num interminável mar de cabeças a balançar dizendo sim, quando era para dizer sim, e não, quando ele mandava dizer não. 

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Todos de crucifixo invertido no peito. Uma versão gigantesca da KKK, do EI, da SS na América do Sul. Livros e templos destruídos, queimados. Delação premiada a todos que entregassem vizinhos, familiares, conhecidos, todos os que tenham proferido qualquer mínima palavra ou mesmo um pequeno gesto contra a ordem.

Nas escolas-fortalezas, as crianças aprendiam táticas militares desde a mais tenra idade e a religião vigente. Com as mãos-de-ferro dos mestres a castigá-los nos mais breves deslizes, um bocejar que fosse. As que gaguejavam sofriam muito. E não eram poucas. 

As mais fortes ganhavam prêmios e subiam no conceito dos superiores para a formação de novos líderes. Passou pela minha noite, um filme já visto pela Humanidade, mas não aprendido por aqui. Como se referira Churchill à Segunda Guerra, algo que podia facilmente ter sido evitado, mas que acabou - por seguidos e insistentes erros - sendo permitido por muitas das vítimas do novo-velho regime. Inocentes?

Eu vi o E.E. dominando o país continental e invadindo Bolívia, Paraguai, Uruguai, Peru e sonhando em tomar toda a América do Sul. Os delírios do tirano iam a ponto de se construir um muro de quilômetros de altura em pleno Oceano Atlântico, nos limites do mar territorial brasileiro. E sonhava chegar ao Pacífico, através da guerra, claro. 

Uma enorme sombra cobriu o país. As praias ficaram desertas. E a demência do ditador se revelava em sua baba no canto de seu riso sádico a cada conquista, a cada caçada humana. E todos os dias ele entrava em cada casa, mesmo nos mais distantes cantões do país, por TV, rádios, internet, alto-falantes para ditar suas diretrizes. Não dormia um só instante.

Esse sonho ruim me pareceu o orwelliano "1984" bem piorado. Ainda bem que foi só um pesadelo. Será?

Vídeo: cenas do filme "Pink Floyd, The Wall", músicas "The show must go on", "Run like hell" e "Waiting for the worms".

sábado, 2 de abril de 2016

DEMOCRACIA: FÁCIL NO DISCURSO, DIFÍCIL NA PRÁTICA

Nestes conturbados dias de fla-flu político, tenho me deparado com inúmeros casos de teoria a anos-luz de distância da prática. Muita gente que berra, esperneia e até mesmo alguns que posam com discursos orais ou escritos muito bonitos na defesa da democracia desafinam feio na hora de exercê-la no seu dia-a -dia. Não, não é fácil ter a prática democrática em casa, no prédio, nas ruas, no trabalho, ainda mais num país cuja História está marcada por dominação ditatorial no governo central e nos seus mais escondidos recantos. O coronelismo ainda está vivo em muitas partes deste Brasil, e não só no interior rural.
O impulso de impor vontades e interesses prevalece nos grandes e nos pequenos poderes. Nossa tradição é autoritária e paternalista e há muitos que se apegam a esta tradição e bradam como se fosse um belíssimo hino. Vejo defensores da democracia só para aqueles que concordam com eles, nunca para os que discordam. Grandes veículos de comunicação - e não só no Brasil - cometeram crimes em defesa de uma liberdade de expressão que só fosse permitida a eles próprios.
A manifestação dos taxistas ontem aqui no Rio é um grande exemplo de que não só as piores práticas dos nossos três poderes desrespeitam o direito alheio. Para defender suas razões, seus direitos, atropela-se os dos outros, sem qualquer pudor. E ai de quem tentar impedir. A antipatia se generalizou na população, mas antes os manifestantes prejudicaram um sem-número de pessoas, das mais diversas formas. E não me digam que não tinham noção disso, porque não foi a primeira, nem a segunda, nem a terceira vez. Se tinham alguma razão nas suas reivindicações, e creio que no geral tinham mesmo, perderam todas elas com mais este ato irresponsável, que nada teve de democrático.
Antes de defender com unhas e dentes a democracia, é preciso praticá-la. Ainda mais num país em que tantos só querem mandar, por poder, status ou dinheiro, e outros muitos só querem obedecer, para não ter de pensar, argumentar, estudar ou por medo e arraigada submissão. De minha parte, continuarei defendendo a democracia na prática. Porém, se me virem abraçado a qualquer governo, podem separar que é briga.
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sábado, 19 de março de 2016

GAÚCHO, O ADEUS DE UM DISCÍPULO DE DARIO

Ele parava no ar, como beija-flor, helicóptero e Dadá. Era irreverente, tinha ótimas tiradas. Era enrolado com a bola nos pés, até não chutava mal, tinha dificuldades no domínio da redonda, mas era um exímio cabeceador. Daqueles de dar um tiro com a cabeça ou apenas colocá-la, com suavidade, onde desejava, longe do alcance do goleiro. Gaúcho deixará saudades, especialmente na torcida do Flamengo. Muitas.

As primeiras lembranças que tenho dele estão ainda na minha memória de torcedor de arquibancada, no início dos anos 80. Um camisa 7 veloz (assim parece nas minhas esparsas recordações), que avançava pela ponta-direita para buscar a linha de fundo e cruzar para o centroavante Vinicius. Não foi assim que ele se consagrou, mas foi como iniciou nos juniores do Flamengo. Vi esta cena relatada acima algumas vezes nas preliminares do Maracanã. Gostava de chegar cedo pra acompanhar a garotada, eu ainda garoto, praticamente da mesma idade que aqueles que estavam em campo.

Estava no antigo Maraca quando ele brilhou como goleiro, no Palmeiras, contra o Flamengo. Pegou dois, na disputa de pênaltis naquele Campeonato Brasileiro absurdo de 1988, que obrigou até Fluminense e Botafogo voltarem a campo num meio de semana à tarde só pra disputa das penalidades, no velho estádio transformado em arena - e lá fui eu a pé do Grajaú ao Maracanã e depois de volta para casa. E o cara não interceptou chutes de pernas-de-pau, mas de Zinho e Aldair, dois jogadores que conquistariam seis anos depois uma Copa do Mundo.

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Quando ele voltou ao Flamengo eu já era repórter do Jornal dos Sports, onde inciei em janeiro de 1990. Cheguei a entrevistá-lo, muito poucas vezes. E fez muitos gols, os mais lembrados de cabeça. Eu me recordo especialmente de um contra o Bragantino, num jogo que o meu time perdeu por 2 a 1. Mas o gol que ele fez foi de alguém que tinha muita precisão no cabeceio. Ele pôs a bola no único lugar possível, já que a pequena área estava repleta de adversários. A bola foi posta no ângulo direito do goleiro, na baliza à esquerda das antigas cabines de rádio, entre um zagueiro e a junção do travessão com a trave.

Gaúcho conquistou no Flamengo, com participações importantes e decisivas, a Copa do Brasil de 1990, o Estadual de 1991 e o Brasileiro de 92. Finalizava a espinha dorsal do time de 92 com Gilmar, Gotardo, Uidemar e Junior, dando respaldo à garotada que havia conquistado pela primeira vez a Copa São Paulo de Juniores para o Rubro-Negro. As imagens de Gaúcho são muitas, fico com aquela dele parado no ar, cabeceando do jeito que achava melhor para tirar o goleiro da jogada e correr pra galera com a bola debaixo da camisa. Adeus, artilheiro!


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segunda-feira, 14 de março de 2016

"O NEGRO CREPÚSCULO", NÃO PERCA!

Comecei a escrever "O negro crepúsculo" em 2004. Depois de muitas versões, aversões e reversões, dei por terminada a tarefa em 2015. Nem tentei a busca por uma editora, pois creio que nenhuma me daria a atenção que eu sempre esperaria. Já me frustrei uma vez com "Profano coração", livro de poesias que lancei em julho de 2009, por uma editora do Rio de Janeiro. Por isso o relancei em versão digital na AmazonKindle no ano passado e repito agora a dose com esse romance de estréia.

É a história de um taxista, c.j. marques (assim mesmo escrito, como o poeta ee cummings), que busca uma relação incendiária, mas só encontra fogo de palha. Não sei se posso classificar "O negro crepúsculo" como romance. O que posso dizer que foi escrito e reescrito com a pele à flor da alma. O leitor que se aventurar por este livro encontrará poesias, filosofias de bar, dor, amor, paixão, ilusão, desilusão, pensamentos, sentimentos, sensações, encontros, desencontros e reencontro.

"O negro crepúsculo" só existe em versão digital. Quem se interessar e puder divulgar, o livro está à venda aqui: http://goo.gl/SdKSqU. Agradeço desde já a todos aqueles que se dispuserem a lê-lo.

Veja também:
"Profano coração" está de volta

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

PENSO, LOGO SINTO 24

Escrevo monólogos, porque sempre conversei muito comigo, continuei conversas e situações da forma que - não exatamente desejava, mas - era induzido e seduzido a criar na minha imaginação. Fluía. Em determinado momento percebi que tudo aquilo merecia ganhar vida. Quantos excelentes monólogos não deixei de escrever? Porém, certamente não foram perdidos de todo. Minha memória certamente me devolveu muito do que imaginei ter perdido. E mais um ganhou vida esta semana. Agora é saber quando e com quem estará nos palcos.

Veja também:
Estilhaços 15
Penso, logo sinto 14
Clarice Niskier, de corpo e alma
O teatro e o futebol

quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

HIPOCRISIA E CINISMO

Um dos argumentos mais repetidos pelos amantes do capitalismo é que a livre concorrência é muito saudável para dar oportunidade às pessoas (ou pior, aos consumidores) escolherem seus produtos e serviços, com preços competitivos e maior qualidade. Em tese, posso até concordar. O problema é que muitos dos grandes defensores da livre concorrência não admitem sequer tocar no assunto quando o papo passa a ser os seus monopólios (ou de seus ícones) e suas exclusividades compradas com (muito) dinheiro e influências políticas e jurídicas, todas no mínimo obscuras. E ainda se dizem democratas e fervorosos advogados da liberdade de expressão. A prática está tão enraizada na nossa pátria pútrida nada gentil que os que não tem má-fé não percebem e apóiam, por comodismo ou ignorância, a manutenção desses monopólios. 

Não quis, nem quero, levantar bandeira de qualquer "ismo" com este texto, porque para mim a questão é o ser humano. Ele é capaz de fazer um sistema aparentemente ruim funcionar bem ou um sistema aparentemente maravilhoso funcionar pessimamente. Tudo depende do caráter (e competência também, claro, mas me atenho aqui à distância abissal entre discurso e prática). É este o cerne da minha questão. Se você tem no discurso a livre concorrência como ideário, não pode defender o monopólio e as exclusividades quando é de seu interesse. São dois pesos e duas medidas, como normalmente acontece aqui no país dos desperdícios. O cinismo não é uma exclusividade brasileira, claro, mas certamente estamos nos primeiros lugares neste ranking que ninguém fez ainda.

Veja também:
Fábrica de ídolos
A necessidade do desejo
Beco sem saída